quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Ele gostava de guardar o cheiro dela no bolso, depois de darem as mãos. Ela gostava de guardar o cheiro dele no corpo, depois de cada abraço. Eles não se falavam, mas sabiam da intenção de guardar o cheiro um do outro. Sabiam também que guardar cheiros era só um jeito de disfarçar a vontade de guardar boca, mãos, corpo, guardar tudo um do outro, trocar tudo que podiam entre si. Sabiam que disfarçar só aumentava o desejo, e sabiam que desejo reprimido só aumentava a perfeição da idéia.
A idéia. Parecia destino, mas também parecia impossível. Parecia que se trocassem tudo que podiam entre si nada mais faria sentido, a não ser trocarem tudo aquilo pro resto da vida. Eles não queriam, agora, nada pro resto da vida. Então quando por acaso parecia que as coisas estavam caminhando para a troca, eles recuavam, disfarçavam, fingiam que era amizade aquilo, e continuavam guardando cheiros sem dizer nada, porque nem era preciso.

Dizem que exagero E eu aqui, nego: Sinto muito. Quando gosto, expando Quando desgosto, debando Dizem que não falo eu,...