domingo, 31 de dezembro de 2017

Resoluções


Não deixar o interrompido
Romper sua vida
Aprender a finalizar
O que nunca começou
Aproveitar as coisas
Que não tem fim

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Isso não é sobre você


O nó cego
que você deu em mim
reverberou aqui dentro
em todos os outros
enroscos
A sorte foi que
aprendi a tempo
a te desatar

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

A carta

Tentativa 1

Escuta,
hoje recebi uma carta e
com ela
quatro surpresas:
tuas palavras queridas
minha escrita pulsante
tua ausência enfraquecida
minha presença ululante

Tentativa 2

Olha,
A carta acaba de chegar.
Cada canto acata um tanto que,
Com cuidado, me permito:
Três lágrimas e um poema.
Aqui os dias vão bem mas
Tem sempre alguma coisa
Não tem?
Não foram três lágrimas,
você sabe,
Chorei um rio.
Lá foi a água sair,
Que fazer, pensei,
É melhor vazar do que contrair.
Faz tempo sou assim,
Quieta-pensativa mas
Meu encanto gira em torno de tanto mas
Não conto, não canto mas
Escolho um canto
- da página –
E imagino um tanto.
Essa história de carta
Me chegou como um alento.
Há tempos me dizia: tome tento mas
quem diria,
Atento só agora,
- em tempo -
pra vida silenciosa de toda hora
que grita no ouvido
Escuta, amigo:
que alegria.

domingo, 4 de junho de 2017

novas formas de estar

Hoje ninguém veio, mas
não estive sozinha.
Da sala à cama, eu
na cama calma eu e 
o vão que ultrapassa a
medida da cama com
a marca do corpo que
não cabe, mas fica.
Deito ao lado como se ainda.
Hoje nada aconteceu, no entanto
o vão da cama é quente como se
há pouco habitado e dura
um dia inteiro como se
acarinhando sem estar ou
estando de todas as formas.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

dança

os braços são
sombras só
sobras dos ombros os
braços balançam sobre
a sombra que
lança-se no chão sem
sinal de laço sem
sombra de abraço os
braços estão só
no espaço mas
sozinhos não, que
atados ao corpo e
colados à pele e
atentos ao sol, ao som, ao sal
mudança sensacional
os braços não são
só sombras quando
sobre, ou sob
outros ombros



sexta-feira, 19 de maio de 2017

Sim

Não ao homem-cilada
homem-fachada
homem-nada.
Eu gosto de quem fica.
Não ao sinal vermelho;
amarelo;
verde-com-acidente-à-vista;
azul:
visualizado-ignorado-fim.
Quero mensagem-afim.
Não à fofura-educação
oi linda sua linda que linda!
Tua fala padrão
pra não pegar na minha mão.
Não mais noite-verão,
manhã-deserto.
Quero você desperto,
vai que dá certo?
Não ao encontro-ampulheta
a tua silhueta só
lindo rosto, pó
tic-tchau
Quero encontro real.
Não ao homem-espelho
fala fala fala-dor.
Adoro quem está quando é
e quem fica quando está.
Que se na minha mão
a tua enrosca,
algum motivo há.
Aposta?






segunda-feira, 8 de maio de 2017

do sofá

da janela da sala dançam
as árvores do vizinho, são
folhas em movimento que
de lá pra cá uivam
de cá pra lá ventam
as árvores remexem
no prédio ao lado
da janela minha vejo
as árvores-pares e
o barulho dos pés-vento

domingo, 19 de março de 2017

do encanto

Eu poderia falar
Do primeiro encontro, no bar
Horas a conversar
A sintonia pairar

Eu poderia falar
Do segundo encontro,
a bailar sem parar
Do tempo voar

Eu poderia falar
Do terceiro e quarto e quinto
Dos ímpares e dos pares
Todos em par.

Mas se eu falasse
Se eu contasse e relembrasse
Vocês talvez fossem se entediar
- Talvez invejar; talvez amar -

Não vou então contar
Das sutilezas
Das miudezas 
Das belezas

Não vou tampouco narrar
O alento bão,
a mão na mão,
os pés fora do chão

Não vou enfim revelar
e nem mesmo deixar no ar
Que o nosso encontro
É sempre festejar.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

tem um poema aqui

Tem um poema entalado aqui
às vezes sai em forma de cor
às vezes dor
De coração já nem falo
tem um poema em cada calo
às vezes é choro
às vezes, samba
às vezes é fácil
noutras, descamba
Tem um poema, caramba
às vezes dorme ao lado
às vezes virado
às vezes revira-
volta
Tem um poema-revolta
às vezes tá em você
às vezes vai sabê
às vezes sai no grito
noutras, mito
Tem um poema calado
que sai no olhar que dura
dentro, fora, parado
Tem um poema e perdura
às vezes no tato
noutras, no olfato
Tem um poema no fato
da tua ausência
da tua presença
Tem um poema entre (os) nós
a sós
Tem um poema em cada passo
- compasso -
Tem um poema,
repasso.

Dizem que exagero E eu aqui, nego: Sinto muito. Quando gosto, expando Quando desgosto, debando Dizem que não falo eu,...