quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Dizem que
exagero
E eu aqui,
nego:
Sinto muito.
Quando gosto,
expando
Quando desgosto,
debando
Dizem que
não falo
eu, no entanto, digo tudo
em silêncio,
(dizem)
em poemas
(dizem)
Assim como queimo, afago
Pra me conhecer, nado
Nunca paro no meio,
Tudo em mim é cheio
Mas se você contesta,
Exagero!


juízo final

hein hein hein, indagou ansioso, quando o outro não disse nada por alguns minutos. No silêncio que se seguiu, imaginou o mundo todo desabando, seu corpo derretendo, o apocalipse total, o último dia da Terra, o tão esperado fim, o juízo final. No meio disso, o outro deu a tal resposta que não foi ouvida, não poderia ser ouvida, o primeiro não tinha ouvidos para ternuras, só conseguia mesmo era indagar e imaginar o fim. Não importava mais qual seria a resposta, que já tinha inventado sua própria desgraça e ninguém o convenceria do contrário. Hein, hein hein, continuava sempre, esperando que o outro, então, lhe contasse sobre fatos sujos, nojentos, que lhe ajudariam a detestá-lo e, quem sabe, abandolá-lo. É claro que o outro nunca admitiu nada, e por isso o primeiro teve que engolir seco e viver na agonia da dúvida, até o dia em que o mundo realmente acabou e ele morreu feliz, convencido de que sua desconfiança tinha muito fundamento.

Dizem que exagero E eu aqui, nego: Sinto muito. Quando gosto, expando Quando desgosto, debando Dizem que não falo eu,...