terça-feira, 11 de outubro de 2016

do ano, migas

Do chão de fato ninguém passou. Na verdade, ao experimentar a concretude da pedra fria, perceberam que precisavam da aspereza, do gosto cinza, da lama que se espalhava entre os dedos. Viver era uma urgência, e isso implicava, também, o contato diário e íntimo com o chão. Tinham pedido por isto: um ano igual a bolo de rolo – enrolado e gostoso. Tiveram. O mundo é tão vasto, diziam, de cara na pedra fria, pra ver se congelavam também as tristezas e reinventavam o olhar. Lá de baixo – no chão – foi que começaram a perceber os pés, todos eles enlameados, naquela dança estranha e inesperada. Perceberam também os nozinhos todos que se formavam e se enrolavam e se transformavam a todo tempo. O mundo é tão vasto, e essa imensidão de possibilidades, e o chão, e o céu. Deitadas de costas no asfalto, pensaram que o céu, tão amplo, tão infinito, lá onde dizem que é o limite, só fazia sentido em referência ao chão, duro e frio. Onde tem chão, tem céu, e essa imensidão que fere e faz renascer. Chão-céu, todas nós, os nós.

Dizem que exagero E eu aqui, nego: Sinto muito. Quando gosto, expando Quando desgosto, debando Dizem que não falo eu,...