domingo, 30 de janeiro de 2011

A partida

Toc-toc-toc, no meio do meu quase. Fiz que fui, mas não cheguei. Ou. Ali, de repente, parei fundo no chão e percebi que não chegar era mais fácil do que chegar. Nem fiz trim-trim quando descobri. Fiquei, apenas, observando o passar do tempo. Pensei no ar entrando na boca e engoli, para guardar um pouquinho lá dentro. Nem não fiz nada, só existi, muda, o ar entrando e saindo. Era a sensação do tempo passando dentro de mim que me fazia - num plim-plim-plim de minuto - começar a ir, de novo, sempre, em direção à. No meio do meu quase lá, inevitável como o ar soprando na gente, trim-trim distraindo o fim, nunca que eu chegava.
Então, num dia de partida como qualquer outro, um fiozinho tênue desses de marionete me puxou para trás, como se tentasse me avisar pela força do ar, do tempo, do sopro dentro da gente, se hoje mesmo você chega, e acaba, sem meio quase lá, por inteiro, o que é que vai fazer amanhã?
Parei fundo no chão, entendendo que chegar não era consequência óbvia de partir, e, por isso, talvez fosse desnecessário. Puxei um trago de ar e, devagar, fui soltando.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Mar

Quando pela primeira vez vi o mar, era senão um quase-ser. Tropeçava em meus próprios pés e soltava barulinhos únicos e irreproduzíveis pela boca. Não sabia meu nome, nem onde eu estava. Ainda assim, e de imediato, rodopiei quatro vezes no instante em que meus pés tocaram a água, dei três pulinhos e cai de bunda na areia. Tinha covinhas nas bochechas de tanto sorrir. Não passaram mais de 5 minutos até eu me salgar. Sem saber ser alegre de boca fechada, engoli água e solucei até a onda me pegar. Fui afundando na areia molhada como se recebesse um carinho refrescante, e não tive medo quando entalei. Fiz uma dançinha sentada pra me soltar e, num impulso, dei meu primeiro passo firme.
Depois desse dia, virei gente. O mar foi minha primeira descoberta.

sábado, 1 de janeiro de 2011

paradoxal

Viver com você é como tomar sorvete com sal, andar de bicicleta na água, dançar sem música, sair nua na rua deserta. É olhar pro céu e não saber se faz sol ou se chove, é pisar em ovos e cálices de vidro sem quebrar nada. É viver na iminência de quebrar, e torcer, às vezes, pra que quebre, pra que tudo se desfaça e se faça de novo, novo. É desejar que não fosse, só pra poder ser mais. É sentir uma dor tão intensa que faz cócegas, é rir chorando, sem saber se o que é é, ou só parece. É senão uma sensação de flutuar pelos fios de cabelo sem perceber quando o vento bate de um lado ou de outro. Viver com você é levantar as sobrancelhas todos os dias, indagando sem dizer, como é que eu posso te amar sem te entender.

Dizem que exagero E eu aqui, nego: Sinto muito. Quando gosto, expando Quando desgosto, debando Dizem que não falo eu,...