terça-feira, 13 de setembro de 2016

lembrete:

Mimar-se com pequenos cuidados.

As cores, as formas, os comos dos quês, tudo importa.

Usar as mãos para acarinhar o que fica no ar, trazer à vida o que faz bem.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

tempo

Eu queria chegar antes da chuva,
não errar tanto,
mastigar mais devagar.
Mas, no entanto, contudo, entre-tantos.
Gostando dos erros calculados,
daqueles que avisam a gente do que já é nosso,
eu me molho na chuva,
erro a conta-gotas,
engulo sem pensar.
Eu queria passar a mão no tempo,
Mas ele insiste em divagar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Errava a conta-gotas, como para não perder o costume.  Gostava de poder dizer a si mesma, quando o erro se escancarava sem medo, um sonoro “eu não te disse?”, confirmando sua já suspeita e óbvia ideia de que o que quer que tivesse planejado ia dar certamente errado.  Previa o erro. Dizia: ah, hoje é dia de errar. Planejava, então, minuciosamente, qual seria o equívoco do dia. É errando que se aprende, pensava. A vida taí pra gente errar, justificava. Nessa semana tinha errado quatro vezes em quatro dias seguidos, com quatro pessoas diferentes.

O primeiro, ainda tímido, foi erro de cálculo. Logo notou o equívoco e consertou o erro. Talvez. Não, maquiou o erro, antes. Soterrou o erro. Depois, ganhando força, o erro passou pra ação. O resultado foram manobras que não queria fazer, mas fez, esperando por respostas que achava que tanto faziam, mas não tanto fizeram, nem pouco fizeram. Nada fizeram. No silêncio que se seguiu ao estrondoso e terrível nada, reparou que tinha imaginado que o erro seria inofensivo. A pobrezinha. Imaginara que, pouco se importando com o resultado daquela manobra, que lhe era totalmente indiferente, não sofreria. Sofrera.

No terceiro dia ela queria muito errar, e planejou direitinho pra que tudo fosse bastante ruim. Foi um erro completo, ela diria. Pensou errado, calculou errado, executou errado. O resultado? A nítida sensação de que precisa errar rude para perceber certas coisas.

No quarto e último dia da avalanche de más ideias, curiosamente, não estava preparada. Como se os outros três erros não tivessem servido de nada. É errando que se aprende, mas ela não aprendia, ela reforçava o erro com um novo erro. Nesse dia, confiante do lado bom da vida, não previu nada. Muito pelo contrário, imaginou um glorioso e sorridente acerto. Acometida por enorme surpresa, quando mais uma vez se viu diante do já tão famoso o que é que está acontecendo, entendeu que o eterno retorno do erro, independente da situação e do outro, estava dentro dela. 

Dizem que exagero E eu aqui, nego: Sinto muito. Quando gosto, expando Quando desgosto, debando Dizem que não falo eu,...