Errava a conta-gotas, como para não perder o costume. Gostava de poder dizer a si mesma, quando o
erro se escancarava sem medo, um sonoro “eu não te disse?”, confirmando sua já
suspeita e óbvia ideia de que o que quer que tivesse planejado ia dar
certamente errado. Previa o erro. Dizia:
ah, hoje é dia de errar. Planejava, então, minuciosamente, qual seria o equívoco
do dia. É errando que se aprende, pensava. A vida taí pra gente errar,
justificava. Nessa semana tinha errado quatro vezes em quatro dias seguidos,
com quatro pessoas diferentes.
O primeiro, ainda tímido, foi erro de cálculo. Logo notou o
equívoco e consertou o erro. Talvez. Não, maquiou o erro, antes. Soterrou o
erro. Depois, ganhando força, o erro passou pra ação. O resultado foram manobras
que não queria fazer, mas fez, esperando por respostas que achava que tanto
faziam, mas não tanto fizeram, nem pouco fizeram. Nada fizeram. No silêncio que
se seguiu ao estrondoso e terrível nada, reparou que tinha imaginado que o erro
seria inofensivo. A pobrezinha. Imaginara que, pouco se importando com o
resultado daquela manobra, que lhe era totalmente indiferente, não sofreria.
Sofrera.
No terceiro dia ela queria muito errar, e planejou
direitinho pra que tudo fosse bastante ruim. Foi um erro completo, ela diria.
Pensou errado, calculou errado, executou errado. O resultado? A nítida sensação
de que precisa errar rude para perceber certas coisas.
No quarto e último dia da avalanche de más ideias,
curiosamente, não estava preparada. Como se os outros três erros não tivessem
servido de nada. É errando que se aprende, mas ela não aprendia, ela reforçava
o erro com um novo erro. Nesse dia, confiante do lado bom da vida, não previu nada.
Muito pelo contrário, imaginou um glorioso e sorridente acerto. Acometida por
enorme surpresa, quando mais uma vez se viu diante do já tão famoso o que é que
está acontecendo, entendeu que o eterno retorno do erro, independente da
situação e do outro, estava dentro dela.