hein hein hein, indagou ansioso, quando o outro não disse nada por alguns minutos. No silêncio que se seguiu, imaginou o mundo todo desabando, seu corpo derretendo, o apocalipse total, o último dia da Terra, o tão esperado fim, o juízo final. No meio disso, o outro deu a tal resposta que não foi ouvida, não poderia ser ouvida, o primeiro não tinha ouvidos para ternuras, só conseguia mesmo era indagar e imaginar o fim. Não importava mais qual seria a resposta, que já tinha inventado sua própria desgraça e ninguém o convenceria do contrário. Hein, hein hein, continuava sempre, esperando que o outro, então, lhe contasse sobre fatos sujos, nojentos, que lhe ajudariam a detestá-lo e, quem sabe, abandolá-lo. É claro que o outro nunca admitiu nada, e por isso o primeiro teve que engolir seco e viver na agonia da dúvida, até o dia em que o mundo realmente acabou e ele morreu feliz, convencido de que sua desconfiança tinha muito fundamento.