Do chão de fato ninguém passou. Na verdade, ao experimentar
a concretude da pedra fria, perceberam que precisavam da aspereza, do gosto
cinza, da lama que se espalhava entre os dedos. Viver era uma urgência, e isso
implicava, também, o contato diário e íntimo com o chão. Tinham pedido por isto:
um ano igual a bolo de rolo – enrolado e gostoso. Tiveram. O mundo é tão vasto,
diziam, de cara na pedra fria, pra ver se congelavam também as tristezas e
reinventavam o olhar. Lá de baixo – no chão – foi que começaram a perceber os
pés, todos eles enlameados, naquela dança estranha e inesperada. Perceberam
também os nozinhos todos que se formavam e se enrolavam e se transformavam a
todo tempo. O mundo é tão vasto, e essa imensidão de possibilidades, e o chão,
e o céu. Deitadas de costas no asfalto, pensaram que o céu, tão amplo, tão
infinito, lá onde dizem que é o limite, só fazia sentido em referência ao chão,
duro e frio. Onde tem chão, tem céu, e essa imensidão que fere e faz renascer.
Chão-céu, todas nós, os nós.
terça-feira, 11 de outubro de 2016
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